O que significa estar consciente? E como isso nos pode ajudar nas nossas relações, atividades, saúde e bem-estar?
Estar consciente
é algo que muitas pessoas tomam por garantido. De facto, é fácil distinguir entre os momentos em que estamos conscientes e os momentos em que não estamos, como, por exemplo, quando estamos acordados ou a dormir.
A questão é: quão conscientes realmente estamos quando estamos acordados?
Ao viver o dia-a-dia, participamos numa vasta série de eventos e desempenhamos um número incontável de ações. Sem nos darmos conta, caminhamos pela rua a olhar para os ecrãs dos nossos smartphones, ignorando grande parte do que está à nossa volta, perdemos trechos de conversas com as pessoas que nos são importantes enquanto divagamos em pensamentos e preocupações, conduzimos quilómetros e quilómetros e chegamos a casa sem noção do percurso. Passamos horas em piloto automático, horas em que nos escapam imensos pormenores da vida e, quem sabe, oportunidades. Nesses momentos, podemos questionar o quão conscientes estamos – o quão presentes estamos para aquilo que nos importa.
Ao viver o dia-a-dia, participamos numa vasta série de eventos e desempenhamos um número incontável de ações. Sem nos darmos conta, caminhamos pela rua a olhar para os ecrãs dos nossos smartphones, ignorando grande parte do que está à nossa volta, perdemos trechos de conversas com as pessoas que nos são importantes enquanto divagamos em pensamentos e preocupações, conduzimos quilómetros e quilómetros e chegamos a casa sem noção do percurso. Passamos horas em piloto automático, horas em que nos escapam imensos pormenores da vida e, quem sabe, oportunidades. Nesses momentos, podemos questionar o quão conscientes estamos – o quão presentes estamos para aquilo que nos importa.
Mindfulness
Mindfulness significa atenção plena e manifesta-se como a consciência que temos no presente, momento após momento, de forma voluntária e sem julgamento. Não significa necessariamente que estejamos permanentemente atentos, mas sim que escolhemos conscientemente trazer a nossa atenção de volta quando percebermos que esta divagou. Não nos julgamos pelas nossas divagações, não justificamos o tipo de divagação ou o porquê, não procuramos que a experiência seja “boa” ou evitamos que seja “má”. Ficamos presentes com aquilo que é, tal como está.
A proposta é começar por prestar atenção à forma como respiramos e às sensações no nosso corpo. Por incrível que pareça, a maioria das pessoas não tem noção da forma como respira – e de como isso influencia o seu sistema nervoso e os seus níveis de energia, mas guardamos essa parte para o próximo artigo – nem das posturas em que coloca o seu corpo. O facto é que passamos horas sentados, em posturas desfavoráveis, respirando superficialmente, enquanto a mente ganha embalo e nos arrasta num fluxo incessante de ideias, memórias e inquietações.
As práticas sugeridas por esta disciplina não têm nenhuma raiz esotérica nem religiosa. Na verdade, é atualmente a disciplina de origem oriental mais estudada pela ciência ocidental, tendo demonstrado inúmeros benefícios para a nossa saúde e bem-estar. São práticas para fortalecer a mente. Afinal, a atenção é como um músculo e, como qualquer músculo, precisa de ser treinada.
Uma atenção forte permite-nos estar mais presentes e fazer escolhas mais conscientes. E isso significa que vamos ser apanhados de surpresa menos vezes pela vida, que vamos gerir melhor o nosso tempo e recordar-nos melhor do precisamos recordar, que vamos ser cada vez menos reativos e que vamos cuidar melhor dos nossos corpos ao invés de os negligenciarmos durante horas.
A importância de estar consciente para a psicologia
Então e qual é o papel de tudo isto para a psicologia? Se a psicologia e a psicoterapia sempre tiveram na sua essência trazer o inconsciente para a superfície e tornar as pessoas mais conscientes e funcionais, agora, mais do que nunca, estão a ser integradas práticas relacionadas com a atenção e a respiração nas suas abordagens terapêuticas.
Estar consciente traz uma maior clareza para a mente e um maior foco para compreender as formas como processamos aquilo que vivenciamos.
Muitas das razões que levam as pessoas a procurar ajuda de um profissional de saúde mental prendem-se com o que se passa na sua mente – pensamentos desagradáveis, crenças disfuncionais, falta de motivação, dificuldade com o foco… E aqui as ferramentas que o mindfulness nos traz podem ser muito úteis. Ao observar os nossos pensamentos sem os julgar, podemos aprender a relacionarmo-nos com eles de uma nova forma. Podemos observá-los como pensamentos e não como verdades, como produtos da nossa atividade mental, resultados do que se passou antes e não necessariamente do que escolhemos que se passe agora. Podemos aceitar que nos sentimos de determinada forma, que isso é válido, e que podemos agir independentemente disso, sem fazermos julgamentos de nós próprios ou aumentar a nossa autocrítica. Podemos simplesmente perceber a “bagagem” que já não nos faz falta e deixá-la ir.
Se o objetivo for a mudança – mudar um hábito, um comportamento ou uma forma de pensar – através de terapia, estar mais consciente vai permitir-nos observar quando realizamos esse hábito, em que contexto mais facilmente isso acontece e quais as motivações internas para o fazer naquele momento. Esta consciência torna-se assim um poderoso coadjuvante do processo terapêutico. Ao estarmos mais conscientes, podemos iniciar novos comportamentos e mantê-los até que se tornem novos hábitos.
Caso o objetivo seja trabalhar as nossas relações, estar consciente será fundamental para percebermos como partimos para o contacto com o outro. Quão disponíveis estamos para ouvir e como a nossa linguagem reflete essa disponibilidade. Como o nosso corpo comunica todas as emoções que não comunicamos verbalmente.
Como esperamos pela nossa vez de falar e como processamos o que ouvimos antes de responder, ao invés de reagir imediatamente. E, curiosamente, ao sermos mais presentes para connosco, estamos a criar mais presença para o outro
Em essência, estar consciente abre uma quantidade infinita de portas para que possamos viver as nossas vidas de formas mais satisfatórias, produtivas e saudáveis. Claro que nem tudo depende de nós, mas se tivermos consciência de tudo o que depende, então as nossas ações terão um impacto muito maior. Assim, fica o convite para explorar a sua e, de modo a tornar o processo mais interessante, encerramos com algumas dicas práticas que pode encontrar em baixo.
“Se a sua mente não estiver sobrecarregada com dez mil coisas, esta é a melhor época da sua vida.”
– Wu‐Men –
4 dicas práticas para sair do piloto automático
- Refeição consciente:
Na próxima vez que for comer, procure estar consciente de tudo o que acontece, desde o seu prato à forma como ingere cada alimento. A proposta é que deixe o telemóvel de lado por uns minutos e se dedique totalmente à experiência de comer – preferencialmente sozinho ou com alguém que esteja disposto a fazer o mesmo. Experimente as várias texturas, temperaturas e sabores, perceba como mastiga, sinta o impulso para dar uma nova garfada.
- Scan corporal:
Sentado ou deitado numa posição confortável, viaje através do seu corpo procurando descobrir que sensação existe em cada zona. Com curiosidade, percorra a sua face e perceba que sensação existe na testa, à volta dos olhos, no maxilar… existe alguma tensão? Continue pelas restantes zonas do corpo e, lembre-se, não existem sensações certas nem erradas, apenas as suas.
- Respiração:
Também sentado ou deitado numa posição confortável, a proposta aqui é perceber a forma como está a respirar sem tentar alterá-la. Não tente respirar como acha que devia. Antes, observe se está a respirar pelo nariz ou pela boca, para o peito ou para a barriga, de forma mais profunda ou superficial… Procure sentir a temperatura do ar que entra e do ar que sai. A respiração é tão mais complexa do que aparenta…
- Hábitos diários:
Escolha um hábito do seu dia-a-dia e tente fazê-lo da forma mais consciente possível. Por exemplo, ao lavar os dentes, muitas pessoas não permanecem conscientes de como o fazem. Qualquer hábito é válido, desde que faça parte do seu dia. O convite é trazer consciência a cada pequeno momento que compõe este hábito. Seja curioso!
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Referências
§ Kabat-Zinn, J (2000). Para Onde Quer que Vás, Aí Estarás: O Clássico do Mindfulness na Vida Quotidiana. Nascente.
§ Mace, C. (2007). Mindfulness in psychotherapy: an introduction. Advances in Psychiatric Treatment, 13, 147–154.
§ Williams, M. & Penman, D. (2015). Mindfulness: O plano de oito semanas que libertou milhões de pessoas do stress e da ansiedade. Lua de Papel.