João Pedro Soares
Segundo a Medicina Tradicional Chinesa
Enquadramento teórico
Quando traduzimos uma palavra do Mandarim a tradução não é tanto um conceito, mas um contexto. Raramente se pode fazer uma tradução literal, sendo que para explicar uma tradução é preciso saber muitas ideias subentendidas ou explicar muitas definições.
Por exemplo o caracter 日 traduz-se simultaneamente para “Sol” e para “Dia”, 月 traduz-se para “Lua” e “Mês”. Estes valores não estão dissociados e existe sempre uma ligação entre as várias diferentes traduções mesmo que não nos sejam obvias imediatamente. Para ir mais a fundo nesta explicação: ao contrário de nós no Ocidente que seguimos o calendário Gregoriano (também chamado calendário Cristão) eles seguem o calendário Lunar que é o mais antigo registo cronológico que se tem conhecimento. Sendo que cada mês corresponde um ciclo da lua. Na China corre o ano de 4718 tendo iniciado a contagem na ocasião do início do reinado de Huang Di o Imperador Amarelo (ou 110 adotado em Taiwan marcando o início da República da China).
Existem outras contagens em outros países, vou referir a Tailândia, porque nutro um amor especial, em que o ano inicia na Festa da Primavera (Songkran) conta com 543 a mais que o nosso calendário. Como é fácil de perceber, eles não contam os anos a partir do nascimento de Jesus, mas a partir da morte de Buda.
Mas estou a desviar-me do assunto. O que quis transmitir com isto é que os conceitos não podem ser interpretados à letra, mas têm de ser “traduzidos” de uma forma que englobe a explicação.
O conceito de Rim mescla-se com o conceito do elemento Água. Não se pode explicar o que é o Rim sem o enquadrar na teoria dos 5 Elementos. Existem relações entre os elementos e estes no estado fisiológico ou patológico do organismo.
No corpo humano a cada elemento, como pode ver na imagem acima, está associado um órgão, uma víscera, um órgão dos sentidos, um “tecido” (tecido para simplificar a explicação) e uma emoção. Na natureza cada elemento está manifestado numa estação, uma direção, cor, sabor, e, sem detalhar muito, um estado e uma mutação.
Porque é que isto é importante? Porque há interações entre os órgãos e muitas vezes uma função ou uma patologia não pode ser explicada sem o enlaço com os outros órgãos e funções. Um pulmão saudável fortalece um rim saudável. Um baço e/ou coração lesado pode afetar o rim, um fígado fraco vai sobrecarregar o rim. Um órgão não pode ser tratado usando apenas pontos do seu meridiano. E, novamente, quando usamos o nome de um órgão não quer dizer que estamos a falar do órgão literalmente, mas sim, do contexto e todas as relações em que esse órgão está implicado.
Sem mais rodeios.
Funções do Rim
- Armazenar a Essência (Jing). Governar o nascimento, crescimento, reprodução e desenvolvimento.
- Produzir a Medula, abastecer o cérebro e controlar os ossos.
- Governa a água.
- Controla a receção do Qi.
- Abre-se nos Ouvidos.
- Manifesta-se no cabelo.
- Controla os orifícios inferiores.
- Abriga a força de vontade.
Armazenar a Essência (Jing). Governar o nascimento, crescimento, reprodução e desenvolvimento
Para perceber este ponto é preciso ter em consideração que segundo a Medicina Tradicional Chinesa há 3 fontes de energia no corpo humano. Uma vem dos alimentos, outra da respiração e por último existe uma que se chama Essência que está armazenada nos rins. Para não complicar muito esta explanação falando das interações entre estas fontes de energia e 2 tipos distintos de Jing. Vou apenas dizer que a energia armazenada nos rins é finita. É herdada dos nossos pais. Somos detentores do seu máximo quando nascemos e vamos usando ao longo da vida.
O nosso crescimento, desenvolvimento, maturidade sexual, e reprodução são função da existência da Essência. Esta controla os vários estágios de mudança na vida e o envelhecer consiste no declínio da Essência durante a vida. Se a Essência for abundante haverá grande vitalidade, virilidade e fertilidade. Se a Essência estiver debilitada o contrário acontecerá. A Essência não se pode repor, mas pode-se preservar.
Produzir a Medula, abastecer o cérebro e controlar os ossos
A função cerebral está intimamente relacionada com o Rim e a Essência. Toda a matriz óssea, medula óssea, cérebro, espinal medula depende do Rim. À medida que vamos perdendo Essência também perdemos memória, concentração, visão e pensamento. Toda a habilidade e inteligência dependem de Essência e Rim fortes.
Governa a água
Controla o fluxo dos fluidos corporais. Controla a urina. Mas também mantem humedecidos órgãos que o necessitam.
Controla a receção do Qi
Este ponto refere-se à interação do Rim com o Pulmão e sua função de receber energia através da respiração.
Abre-se nos Ouvidos
Se o Rim estiver debilitado pode afetar a audição ou surgir a ocorrência de zumbidos.
Manifesta-se no cabelo
Essência abundante fará o cabelo crescer saudável e vigoroso, caso contrário pode tornar-se fino, quebradiço e cair.
Controla os orifícios inferiores
Autoexplicativo 🙂
Abriga a força de vontade
O Rim determina a nossa força de vontade.
Misturando tudo
- O medo lesa o Rim. Há muitos filmes em que, quando alguém está numa situação de medo urina involuntariamente, não controlando os orifícios inferiores. O medo também imobiliza, perdendo a pessoa a força de vontade.
- À medida que vamos envelhecendo vamos perdendo memória, concentração. Pode surgir impotência e no caso das mulheres secura vaginal. Podemos perder o controlo dos esfíncteres, podemos precisar de fraldas novamente.
- Os nossos ossos ficam mais quebradiços e os dentes podem cair.
- O nosso cabelo cai e podemos perder a audição.
- Tudo isto faz parte do bonito ciclo natural da vida.
Ainda não há forma de a prorrogar, mas podemos cuidar de nós de forma a mantermos boa condição na nossa idade avançada.
A Medicina Tradicional Chinesa procura dar condições de melhorar a qualidade de vida de quem a usa.
Marque uma sessão e descubra como.
Bibliografia:
“O Diagnóstico Na Medicina Chinesa” – B. Auteroche – P. Navailh; ANDREI Editora LTDA, São Paulo; 1992
“Os Fundamentos da Medicina Chinesa Um texto Abrangente para Acupunturistas e Fitoterapeutas” – Giovanni Maciocia; Editora Roca LTDA; 1996