A Dor é considerada como o 5º Sinal Vital
Tipicamente consideramos a nossa saúde como garantida…
Até que uma limitação física nos impossibilite de fazer o nosso dia-a-dia. A dor é, na maioria dos casos, o sintoma que leva as pessoas a procurar a ajuda de um profissional de saúde, seja ele médico, fisioterapeuta, osteopata ou outro similar, e é tido como um sintoma muito importante para o diagnóstico de várias doenças.
O que é a Dor?
Todos nós podemos sentir desconforto durante algum tempo – semanas, ou até mesmo meses, dependendo da tolerância à dor de cada pessoa; podemos acordar com algumas dores ou rigidez matinal, mas desde que estes sintomas vão desparecendo ao longo do dia, e de dia para dia, nós lá vamos fazendo a nossa vida.
Mas o que é a Dor? A dor é descrita pela Associação Portuguesa para o Estudo da Dor (baseando-se na definição da International Association for the Study of Pain) como:
“Uma experiência sensorial e emocional desagradável associada, ou semelhante à associada, a danos reais ou potenciais nos tecidos.”
É considerada sempre uma experiência pessoal que é influenciada em diferentes graus/níveis por fatores biológicos, psicológicos e sociais (por isso se diz ter origem biopsicossocial, ou multidimensional).
O mais importante a reter relativamente a esta definição é que a existência de dor não significa necessariamente que há danos (ou seja, lesão efetiva dos tecidos). Isto significa que uma pessoa pode ter:
-
- dor com danos (alteração tecidular)
-
- nenhuma dor com muitos danos
-
- muita dor com danos mínimos
A dor é influenciada por muito mais do que apenas o tecido corporal, também é afetada e influencia outras áreas da sua vida. As emoções, sensações, crenças sobre a dor e aspectos sociais estão relacionados om a dor persistente. Chama-se a esta forma de olhar a dor, o modelo bio-psicosocial.
Significa que todas as áreas de sua vida podem influenciar a dor. Isso é uma boa notícia porque, assim sendo, significa que você tem muitas opções para tratá-la.
Como caracterizar a dor?
Uma das formas de caracterizar a dor, é através da intensidade numa escala, que pode ser numérica, visual, ou qualitativa. A que mais se costuma utilizar é a escala numérica análoga, em que o terapeuta questiona o paciente qual o número que atribui à sua dor, de 0 a 10. Com a ajuda desta escala pode fazer a equivalência entre a intensidade da sua Dor e uma classificação numérica, sendo que a 0 corresponde a classificação “Sem Dor”, e a 10 a classificação “Dor Máxima” (Dor de intensidade máxima imaginável). O valor registado é sempre aquele que sentir.
Pode ainda procurar responder às seguintes questões:
- O que agrava?
- O que alivia?
- Como varia ao longo do dia?
- Como varia com os movimentos ou esforços? Que tipo de movimentos / exercícios?
- Dias stressantes no trabalho ou na vida pessoal geram alterações na dor?
Dor aguda e Dor crónica
Há dois conceitos que possivelmente já terá ouvido falar quando vai ao médico, fisioterapeuta, osteopata ou até mesmo em conversa com familiares, amigos ou colegas de trabalho. São eles: dor crónica e dor aguda. Quais as diferenças entre elas ao certo?
A dor aguda é aquela que, até determinado ponto, tem efeitos benéficos para o organismo. É um sinal de alarme que avisa da ocorrência de algo que não está bem no nosso corpo: seja um traumatismo, uma queimadura, um derrame articular ou uma úlcera gástrica, entre outros. Ainda assim, deve ser combatida por forma a não se tornar, eventualmente, numa dor crónica.
A dor crónica é aquela que persiste após três a seis meses do seu início, não tem qualquer vantagem para o doente Sabe-se hoje em dia que, para além do sofrimento que causa, a dor crónica tem repercussões na saúde física e mental do indivíduo, levando por exemplo a alterações do sistema imunitário com uma consequente diminuição das defesas do organismo e aumento da suscetibilidade às infeções. No campo da saúde mental, a dor crónica está comummente associada a insónias, historial de ansiedade e depressão, podendo mesmo levar ao suicídio nos casos mais extremos.
Estatísticas acerca de dor
2,9% da população sofreu de dores lombares ou outros problemas crónicos nas costas.
24,1% sofreu de dores cervicais ou outros problemas crónicos no pescoço.
24,1% tem diagnóstico de artrose.
Dos 16 aos 64, 37,8% das pessoas avaliam negativamente a sua saúde.
Apenas 14,8% das pessoas com 65 ou mais anos avaliam positivamente a sua saúde.
As mulheres avaliam mais negativamente (45%) o seu estado de saúde, do que os homens (55%).
Origem da Dor Crónica
De acordo com a International Association for the Study of Pain, a dor crónica tem múltiplas origens: físicas, psicológicas e ambientais.
Dentre as físicas temos:
- inflamação
- stresse
- tensão muscular
- lesão
- problemas posturais
- desequilíbrios musculares
- alergias e sensibilidades alimentares
- processo de doença em curso (por exemplo, doença autoimune)
- deficiências de nutrientes
- sono inadequado, entre outros
Psicológicas e ambientais:
- depressão
- ansiedade
- transtorno de stresse póstraumático
- isolamento social
- abuso físico, psicológico ou trauma
- abuso sexual
- exposição a doenças, entre outros
Seis passos para reduzir a probabilidade de ter Dor Crónica
1. Mantenha uma dieta e peso equilibrados.
2. Faça exercício regularmente.
3. Elimine rotinas pouco saudáveis.
4. Escolha posturas saudáveis para trabalhar e descansar.
5. Aprenda técnicas de gestão de stress.
6. Consulte um médico ou terapeuta sempre que necessário.
Veja o nosso artigo sobre Consciência , e o Ebook que preparámos para si acerca de Dor Crónica, para mais sobre o ponto 5.
Como se trata a dor crónica?
Pelo que foi explicado até aqui, conseguimos perceber que o tratamento eficaz da dor requer uma abordagem abrangente, ou seja, holística e integrativa. Se há alguns anos atrás ouvíamos recorrentemente a expressão “isso é da sua cabeça”, quando se falava de dor crónica, hoje sabe-se que efetivamente o sistema nervoso central tem um papel preponderante na origem e tratamento da dor crónica.
Muitos terapeutas (sejam eles massagistas ou terapeutas manuais, fisioterapeutas, osteopatas, quiropráticos ou personal trainers) cuidam da pessoa com dor tipicamente através de uma abordagem mais física, biomecânica e através do movimento e/ou exercício. No entanto, há crescentes evidências científicas que mostram que a abordagem biomecânica (através de terapias físicas, movimentos ou exercícios) por si só pode não abordar totalmente a causa da dor, e por isso não a curar efetivamente.
Se sofre de dor crónica e já tentou diversas terapias, provavelmente já passou pela fisioterapia, pela osteopatia, ou até mesmo pelas mãos de um experiente massagista. Possivelmente não com os resultados que esperava, e daí estar agora a ler este artigo. Os desenvolvimentos recentes na área da saúde e da neurociência da dor, procuram integrar a abordagem biomecânica considerando a natureza multidimensional da dor, considerando a alimentação e até a qualidade do sono. Conforme referido no início deste texto, a esta abordagem designa-se por biopsicossocial ou integrativa.
A abordagem integrativa da dor é relevante porque reflete os avanços que estão a ser feitos no campo do tratamento da dor, mas também nos campos da psicologia, genética (e epigenética), trauma e nutrição. Muitas das pessoas com dor crónica já efetuaram as suas próprias pesquisas, consultaram diversos profissionais e, muitas das vezes, chegam à avaliação já com noções destes avanços na área do tratamento da dor e promoção da saúde.
Uma das descobertas mais recentes nesta temática é o reconhecimento de novos “eixos”: o eixo intestino-cérebro, o eixo intestino-articulação e o eixo intestino-dor.
Procuraremos explicar breve e sucintamente. Se quiser saber mais informação sobre estes temas pode consultar os livros “Cérebro de Farinha”, “O Intestino Feliz” ou “O Segundo Cérebro”, ou “Heal Your Pain Now”. Simplificadamente, isto significa que existem interrelações entre o nosso cérebro, o intestino, as articulações e a dor. Esta ligação é possível através de um dos nervos cranianos, o Nervo Vago, que faz a ligação entre o cérebro e o intestino. Assim, isto também significa que no caso da dor crónica, muitas das vezes o problema é a inflamação generalizada do corpo, a chamada inflamação sistémica.
Existe uma ligação direta, e forte, entre a ingestão de nutrientes e a dor. A dor não é exclusiva nem seletiva quanto ao peso da pessoa, ou ao facto de estar dentro do índice de massa corporal para a idade, ou acima dele. Não obstante, existe uma forte associação entre obesidade e dor, devido à capacidade do excesso de tecido adiposo em aumentar os níveis de inflamação. As carências de minerais e vitaminas, decorrentes de uma alimentação altamente processada e rica em comidas rápidas (a famosa fastfood), têm um papel importante na origem da dor crónica.
Seis Dicas para a Gestão da Dor Através da Alimentação
1. Reduza a inflamação e proteja o seu corpo do stress oxidativo (integrar fruta e legumes).
2. Gorduras boas (ómega 3 e azeite ajudam a reduzir inflamação).
3. Previna a deficiência de vitaminas e minerais (principalmente Vitamina D, B12 e magnésio).
4. Beba água (a desidratação pode aumentar a sensibilidade à dor).
5. Coma mais fibra (a fibra é importante para um microbioma saudável).
6. Consuma menos alimentos ultra processados e açúcares (têm muitas calorias e muito poucos nutrientes, aumentam a inflamação e stress oxidativo).
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