Costuma chegar ao final do dia com o pescoço e os ombros cansados, ou com dores?
Nos dias que correm, grande parte das pessoas teve oportunidade de passar a realizar as suas funções no regime de teletrabalho, no conforto das suas casas. Mas será que é sempre assim tão confortável? Nem sempre, nem para todos. Neste artigo vamos falar sobre fatores de risco, algumas das causas para as dores nos ombros e no pescoço, referir algumas vantagens e desvantagens do teletrabalho, e fornecer estratégias simples para lidar com a situação.
O nome dado a este tipo de dores, que não têm propriamente uma causa definida é Dor Cervical Inespecífica. Esta DCI é definida como dor na região posterior e lateral do pescoço entre a linha superior da nuca e o processo espinhoso da primeira vértebra torácica (dor entre a cabeça e o início dos ombros / coluna dorsal), sem sinais ou sintomas de patologia estrutural importante e nenhuma ou menor ou menor interferência nas atividades da vida diária. A DCI caracteriza-se ainda pela ausência de sinais neurológicos e patologias específicas; tais como: entorse e fratura traumática, artrose ou espondilólise cervical.
As pessoas que têm uma causa definida para a sua dor cervical, como por exemplo: radiculopatia, dor nas articulações facetárias, hérnias discais, ou doenças reumáticas crónicas diz-se que têm uma Dor Cervical de causa Específica.
Fatores de risco
Dentro de uma estrutura “Bio-Psicossocial”, vários fatores podem ser considerados como contribuintes para a DCI. Os fatores de risco são multidimensionais, e podem ser divididos em fatores individuais e ocupacionais.
Os fatores individuais incluem:
- género,
- idade avançada,
- ser fumador,
- história de lesão prévia no pescoço ou na coluna lombar,
- fatores psicológicos (por exemplo, stress, expectativas e (in)satisfação no trabalho, ansiedade, depressão e falta de apoio social)
Os fatores ocupacionais incluem:
- longas horas de trabalho sedentário ou de escritório,
- alta carga de trabalho (potenciada pelo facto de estar em casa),
- estação de trabalho inadequada (cadeira da sala, mesa da sala ou da cozinha, portátil)
Não obstante, os fatores considerados mais predisponentes para estes sintomas são: ser mulher e/ou ter história prévia de dores na região do pescoço e ombros.
Como vimos no artigo Os benefícios e importância da Fisioterapia, quando sente uma dor na coluna e procura ajuda, o seu tratamento pode passar por corrigir uma disfunção no pé ou por aprender a alongar alguns músculos dos membros inferiores. Mas não só, como veremos adiante. Um dos métodos que se pode utilizar para este efeito é a Reeducação Postural Global criada por Philippe Souchard, fisioterapeuta Francês, ou o seu método com auto-posturas, o Stretching Global Activo.
A Dor Cervical Inespecífica é uma alteração musculoesquelética altamente comum e uma das principais causas de incapacidade em todo o mundo. Está bem estabelecido que dor cervical não é apenas fator de risco para problemas graves de coluna e incapacidade funcional, mas que também está associada à diminuição da qualidade de vida e produtividade dos trabalhadores.
As taxas de prevalência mostram que cerca de duas em cada três pessoas sentirão dor no pescoço numa dada altura durante sua vida. Como referido, mostram que as mulheres são mais propensas do que os homens a ter estes sintomas, e ainda mais a apresentar hiperalgesia generalizada por dor visceral recorrente. De seguida veremos o que é isto da dor visceral.
Causas de Dor Cervical
A maioria das dores na região cervical, como vimos, são de origem inespecífica, ou seja, não se lhes consegue atribuir uma causa. Estas, normalmente estão relacionadas com alterações posturais e com tensões miofasciais (dos músculos e fáscias), com o stress emocional e mental, e/ou mesmo com má higiene de sono. O que significa que com a ajuda de terapias (fisioterapia, massagem, osteopatia), exercício terapêutico (fisioterapeuta ou personal trainer), e alteração de hábitos nocivos (fast-food, refrigerantes, álcool, tabaco, dormir poucas horas, beber pouca água) para outros mais saudáveis (alimentação saudável, meditar, beber pelo menos 1,5L água por dia, exercitar pelo menos 3xs por semana), pode conseguir-se alívio das queixas.
Vejamos de que forma as tensões podem contribuir para as dores. Normalmente associamos que os problemas na região do pescoço e dos ombros apenas se relacionam com alterações nestas mesmas zonas. No entanto, há sempre que considerar a possibilidade de haver tensões associadas a:
Vejamos de que forma as tensões podem contribuir para as dores. Normalmente associamos que os problemas na região do pescoço e dos ombros apenas se relacionam com alterações nestas mesmas zonas. No entanto, há sempre que considerar a possibilidade de haver tensões associadas a:
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- à mão e cotovelo (devido ao trabalho com o rato do computador),
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- à articulação da boca (Articulação Temporo-Mandibular) devido ao stress ou problemas nos dentes,
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- disfunções e tensões musculares ao nível da transição entre a coluna cervical e dorsal,
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- perda de mobilidade ao nível lombar e das ancas (excessiva tensão nos glúteos dificulta a posição de sentado).
Numa sessão de fisioterapia pode contar com uma avaliação global, na qual o terapeuta procura saber todo o historial da sua lesão, bem como outras informações pertinentes (tema a discutir num outro artigo). Quando uma pessoa se queixa com dor cervical e dos ombros, é sempre importante procurar na história clínica outro tipo de sinais e sintomas que podem levar a suspeitar de outro tipo de doenças, tipicamente associadas a inflamação generalizada.
Um dos sintomas que nos pode fazer suspeitar de outras causas é a existência de rigidez matinal, que melhora ao longo do dia. Neste caso, existe uma boa probabilidade de se tratar da existência de condições reumatológicas (artrite reumatóide, espondilite anquilosante ou fibromialgia), mas que geralmente não ocorrem isoladamente. Caso se trate de condição reumatológica, existe o envolvimento articular generalizado, ou seja, existe o mesmo tipo de sintomas em várias articulações do corpo. Não obstante, para se efetuar um diagnóstico preciso, o melhor é consultar um médico ortopedista ou reumatologista.
Outra das causas possíveis para a existência de dor cervical é a existência de patologias viscerais (úlceras gástricas, fígado gordo ou outros distúrbios deste órgão, ou mesmo cálculos biliares). Através das ligações entre os nervos e os órgãos, justifica-se esta possibilidade de dor referida à distância, ou seja, dor cervical com origem nos órgãos e visceras. Para saber mais sobre este tema poderá ler o livro Dor Para Quê.
A compreensão (por parte do médico ou terapeuta) e a consciência da dor referida são fundamentais para um diagnóstico preciso da fonte de dor.
Avaliação
O profissional de saúde que receba uma pessoa com queixas de dor nos ombros e no pescoço deve realizar avaliações para determinar o potencial para a presença de patologia grave (por exemplo, infecção, insuficiência arterial, insuficiência ligamentar cervical superior, ou outras disfunções) e encaminhar para consulta conforme necessário.
Uma das formas de se avaliar e medir os sintomas que a pessoa se queixa é uma escala, como por exemplo o Neck Disability Index (Índice de Incapacidade do Pescoço). Nesta escala fazem-se questões sobre:
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- Intensidade da dor
- Cuidados pessoais
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- Levantar coisas
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- Leitura
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- Dores de cabeça
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- Prestar atenção
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- Trabalho
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- Dirigir automóveis
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- Dormir
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- Diversão
Ao avaliar um paciente com dor no pescoço averigua-se se existe, por exemplo:
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- dor no pescoço com déficits de mobilidade
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- testes de mobilidade para o tórax e e região cervical
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- dor no pescoço que gere dor de cabeça
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- dor no pescoço com irradiação de dor
Estratégias
Há coisas bem simples que podemos fazer ao longo do dia-a-dia de trabalho que nos permitem chegar ao final do dia bem mais confortáveis. Vejamos algumas:
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- Ter o monitor do computador à nossa frente (e não lateralizado)
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- Ter o topo do ecrã ao nível dos nossos olhos. Para quem trabalha com portátil, uma das soluções passa por colocar o portátil em cima de uma zona mais alta (com livros, por exemplo), e trabalhar num teclado à parte, apoiado na secretária
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- Utilizar um rato vertical, em vez do rato normal
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- Levantar de hora a hora e fazer alguns movimentos de alongamento com os braços e o pescoço
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- Realizar alongamentos para todos os grandes grupos musculares (peito, costas, parte da frente das coxas, parte de trás das coxas e das pernas) antes e depois do trabalho
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- Procurar fazer snacks saudáveis entre refeições (como por exemplo uma fruta ou um punhado de frutos secos), em vez de pão, bolos, ou outras comidas processadas.
Tratamento
A dor cervical pode ser aguda, sub aguda ou crónica. Para cada uma das situações o tratamento poderá e deverá ser diferenciado de acordo com as últimas Guidelines publicadas. Para mais informações sobre dor crónica pode consultar o nosso e-book “Dor Crónica – Tratamento Integrativo“.
Os tratamentos conservadores (ou seja, não cirúrgicos ou invasivos) usados para ajudar a controlar a Dor Cervical Inespecífica são numerosos e incluem terapias convencionais (TC) e não convencionais (TNC):
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- Fisioterapia (que inclui terapias manuais, eletroterapia, exercício terapêutico e educação para a saúde)
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- Pilates, Reeducação Postural Global, Yoga ou outro tipo de treino terapêutico personalizado
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- Medicina Tradicional Chinesa (incluindo acupuntura)
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- Nutrição e/ou Naturopatia (aconselhamento nutricional e de suplementos alimentares adaptados a cada caso)
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- Massagem
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- Técnicas de relaxamento e práticas mente-corpo (meditação, mindfulness, ou outras práticas relacionadas)
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- Medicação (preferencialmente aconselhada pelo médico assistente – médico de família, do trabalho, ortopedista ou reumatologista, por exemplo)
Pode ler mais sobre algumas técnicas simples de Relaxamento no artigo “Consciência – Porque é importante sermos autoconscientes?”.
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Referências
The efficacy of manual therapy and exercise for treating non-specific neck pain: A systematic review.
Chronic Neck Pain: Nonpharmacologic Treatment
Neck pain: What if it is not musculoskeletal?
Visceral Origin: An Underestimated Source of Neck Pain. A Systematic Scoping Review
Cost-effectiveness of conservative treatments for neck pain: a systematic review on economic evaluations
Neck Pain: Revision 2017